terça-feira, 8 de abril de 2014

"Salva Vidas"


Fechei os olhos e vi as ondas. Senti o mar, o sol, o céu, o som dos pássaros. Percebi que a vida é essa enxurrada de sensações, de amores, companheirismos, lutas, sorrisos, lágrimas...

A vida é inexplicável e impensável. Percebi que a maior forma de estar em sintonia com ela é sentindo, fluindo, flutuando no ar como gotículas de água em alto mar.

Algo como uma profunda gratidão preencheu meu ser, gratidão não a alguém, mas a tudo o que aconteceu e acontece, a toda a dádiva da existência. Dei-me por feliz ao perceber que o mundo é como um presente para mim e eu, um presente para o mundo.



segunda-feira, 10 de março de 2014

Migração...

Ontem vi os pássaros migrando, centenas deles...

Acho que o maior mistério não é para onde, mas como todos sempre sabemos o momento de partir.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O Brasil em chamas e as (possíveis) Zonas Autônomas Temporárias


Manifestação de 07 de setembro de 2013, São Paulo

Tenho visto comentários on e offline sobre o aumento do tal "vandalismo" a falta de diretrizes nas manifestações, a falta de coerência (seja lá o que signifique isso) de manifestantes e praticantes Black Blocs.
Pessoas, em meio a essa situação, que obviamente foge às suas compreensões (e à minha também) se perguntam "onde está aquele espírito de união, aquele clima de mudança que vimos tomar as ruas em junho de 2013?"

Pois, além de achar cômico esse saudosismo precoce, eu vou dizer a minha opinião:

Eu estive lá, nas ruas, em junho. Estive lá um dia depois do ato que emocionou tanta gente, que mudou o discurso dos apresentadores de TV, que colocou a palavra "manifestação" no vocabulário do Sérgio Chapelin...
E tudo o que eu vi foi uma festa medíocre pintada de verde e amarelo, com pessoas que diziam querer mudanças, mas que ostentavam os símbolos da velha ordem que tanto massacrou e massacra o povo.
Tudo o que vi foi mais uma balada de rua na Av. Paulista, dessa vez no meio da semana e não na sexta. Vi uma multidão que gritava contra o aumento da tarifa, baixar seus cartazes para entrar na fila da catraca do metrô.
Vi uma mera procissão, um ato sem ideologia nem radicalidade.
Isso tudo sem contar na grande sabotagem da CPTM, que deixou milhares de pessoas da Zona Sul sem transporte, tendo que caminhar dezenas de quilômetros até a casa ou mesmo passar a noite na rua.

E gente vem falar que falta continuidade nas mobilizações... Continuidade no quê?


Protesto em resposta à morte de jovem Zona Norte
A continuidade que precisamos já temos, é a nossa capacidade de sobreviver em meio à repressão policial diária, com a escassez de meios de subsistência, com a negligência do SUS, estudando em escolas que mais parecem prisões tanto fisicamente quanto no trato com @s alun@s...
As ruas estão sendo novamente tomadas de forma mais radical, as cidades estão mais uma vez parando. Se as manifestações são passageiras, isso é o que menos importa.
Talvez o que temos que mudar sejam principalmente os nossos paradigmas de movimentos sociais. Se já não acreditamos no "felizes para sempre" dos contos de fadas nas nossas vidas pessoais, porque ainda se acredita nisso quando se trata de política?
Uma mudança quando é duradoura deixa de ser mudança, certo?
O que acredito atualmente é que precisamos nos reinventar sempre, e de certa forma é isso o que está ocorrendo nas ruas e que está sendo desvalorizado pelas mentes conservadoras (da direita e da esquerda), sendo classificado como movimentações "sem futuro".
Talvez fosse isso o que o Hakim Bey chamava de Zonas Autônomas Temporárias.


Ato contra Instituto Royal (outubro 2013)
Parafraseandoo manifesto Negativo:
"Acreditamos no potencial criativo da negação e evocamos o caos, o indefinido, o desconhecido e o inusitado para tocar a música a qual dançarão as profundas transformações necessárias a cada pessoa."

sábado, 5 de outubro de 2013

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Um saca-rolhas abriu meu peito

Naquele momento, foi como se tivessem enfiado um saca-rolhas no meu peito, girado e puxado; abrindo um buraco pelo qual vazavam cores e formas difíceis de descrever, que se misturavam ao fluido no qual estava mergulhado todo aquele universo.

Eu girava, o mundo girava, os prédios giravam, os pombos que voavam entre os prédios e ciscavam bitucas de cigarro também giravam.

Os pés já não caminhavam o chão, mas sim a minha própria pele, repleta de texturas, sons, sabores, perfumes...

A mente tentava entender, controlar, mas todos aqueles rostos, nuvens, pedras da calçada, rodas de carros, folhas, tênis nos fios elétricos, fios que teciam as roupas... tudo aquilo era demais, e ainda é.

Da matéria algo conseguiu escapar por uma fenda aberta meio que sem querer e sem saber; sangrou, chorou e evaporou. Deixou um vácuo do qual até hoje ainda surgem, a cada instante, novos mundos de diferentes e inexplorados matizes.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Não é assim que a guerra vai acabar (Do holocausto contemporâneo)

Aos defensores da moral do "cidadão decente", partidários da redução da maioridade penal, do encarceramento em massa, e do holocausto generalizado que ocorre nas periferias e nas cadeias do Brasil (e do mundo), recomendo uma revisão de seus argumentos. Pois quem forma sua opinião a partir do Datena, da revista Veja, da Rede Globo ou dos demais oradores do ódio e da violência institucionalizada infelizmente está chamando de realidade o mesmo universo onde Veras Fischers, Reinaldos Gianecchinis, Giseles Bünchens, Leonardos Dicaprios e similares vivem infinitas aventuras, amores e desamores e terminam felizes para sempre. 

O mundo onde a polícia e as cadeias reduzem a violência é o mesmo mundo onde James Bond enfrenta o mal a bordo do bondinho do Pão de Açúcar, o mesmo mundo onde personagens viajam entre as favelas do Rio e a Turquia como quem vai à feira comprar pastel, o mesmo mundo onde o vilão (ou a vilã) sempre termina louco vagando pelas ruas sem rumo ou acaba morto por alguma pessoa "sem nada a perder" querendo vingança. Recomendo que quem acredita que vive nesse mundo - e consequentemente acredita que todos os assaltantes saem na rua para matar o primeiro que der vontade - conheça um pouco mais da realidade onde estão inseridas a maioria das pessoas que cometem crimes como assaltos, tráfico de entorpecentes ou latrocínio. Recomendo que conversem com familiares de pessoas presas, ex-presidiários ou adolescentes que cumprem (ou cumpriram) medidas socioeducativas. Acredito que, no mínimo, tomarão conhecimento de um lado da história que não é contado nos jornais, nos filmes, nas novelas, nem nos rádios e que a polícia, "defensora da sociedade" faz questão de esconder. 

Não é na TV, no cinema ou nas faculdades que se aprende sobre o mundo. É nas ruas, estando de olhos e ouvidos atentos, conhecendo as violências e as contradições que fazem parte do dia-a-dia da maioria da população (isso inclui a mim e, provavelmente, você) é que se pode entender, pelo menos um pouco, as causas de efeitos como a tal Criminalidade. 

E, falando de adolescência, foi nas ruas que os meninos e meninas aprenderam que não vivem no mundo do faz-de-conta da Cinderela ou do Batman, e que o crime na verdade compensa, pois é a única alternativa que viram para tomar para si a estima e a dignidade que lhes foi roubada antes mesmo de nascerem.

E que fique claro: se neste instante não estou cometendo um crime, recebendo uma sentença, nem sendo amaldiçoado pelas "pessoas de bem" por ser um "Bandido" (termo um tanto ultrapassado e fantasioso, na minha opinião), mas estou aqui escrevendo é por mero acaso, sorte ou truque do destino, pois estou inserido na mesma realidade em que o crime organizado é o partido com maior popularidade e a cadeia é a faculdade mais acessível ao povo. 

Cada vez mais, vejo a verdadeira crueldade, não quando vejo um crime, nem quando um "criminoso" fala, mas quando uma pessoa "Normal" manifesta sua sede de sangue e de sofrimento alheio, dizendo coisas como "tem que apodrecer na cadeia" ou "bandido bom é bandido morto". 

Parafraseando o Facção, "Não é assim que a guerra vai acabar".

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Diversidade (de legumes numa bandeja de self-service)

Acabei de entrar num site que trata a questão das desigualdades. No canto direito, uma imagem me chama atenção, está escrito "Diversidade nas Empresas" e tem a foto de 4 pessoas de "origem étnica" distintas entre si, mas todas uniformizadas, com um sorriso na cara, enceradas e maquiadas. As pessoas mais parecem vegetais diversos numa bandeja de self-service.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Dos cães que morrem em mim


Hoje vi um cãozinho morrer atropelado. Quase fiquei triste. Lembrei-me de uma cena muito parecida que vi há  uns 10 anos atrás, quando realmente me emocionei.
Penso que talvez a diferença de reação minha se deva ao fato de o cão de hoje ter morrido na hora, enquanto o de dez anos atrás gritou e agonizou por minutos.

Mais uma vez me remeto à  idéia de que todas as coisas são espelhos, que refletem quem nós somos.

É  como se todos os dias morressem cães dentro de mim, mas hoje eles agonizam menos. Morrem de uma só vez, sem aquela gritaria que tanto doía. Morrem em paz. Ainda que seus cadáveres sejam coisas feias de se ver, apresentam apenas alguns espamos post-mortem como resistência ao fim.

E o tão temido fim é só uma mudança, que dói quanto mais gritamos e agonizamos.

Mas que fique claro: estarei mentindo se disser que não há mais cães agonizantes em mim. Mas tenho esperanças que um dia eles morram em paz, seguindo o sábio exemplo daquele que se foi hoje à tarde, sob as rodas de um carro numa rua de meu bairro.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

O Sapo Existencialista


Ontem, numa conversa com minha filha, tive um insight. Acho que toda aquela idéia de que estamos "condenados à liberdade" se resume em uma cantiga infantil conhecida por tod@s:
"O Sapo não lava o pé porque não quer".
Será que Sartre também tinha chulé?

terça-feira, 3 de julho de 2012

É estranho (mas não tão estranho)


É estranho (mas não tão estranho)
Quando acordo com essa sensação...

Como se esse sol que ilumina e aquece o dia
Tivesse nascido primeiro aqui, no meu peito, antes de nascer pro mundo.

Parece que qualquer coisa vira motivo pra um suspiro,
Pra encher os olhos de lágrimas, pra abrir um sorriso...

É nesses momentos que olho pra tudo ao meu redor,
E parece que é tudo eu.

Árvore-eu,
Passarinho-eu,
Formiga-eu,
Pessoas-eu.

E os amigos... mesmo que eu não os veja,
Sinto como se estivéssemos abraçados o dia inteiro.
Num daqueles abraços que a gente esquece onde está, que horas são, que dia é...
Que a gente esquece até quem é, nesse emaranhado de corpos, corações e almas.

E os problemas?
São essas nuvenzinhas, que passam pelo céu, encobrindo o sol por instantes,
Mas que não são capazes de tornar o dia noite.

O dia...
Acho que hoje acordei um tanto sol,
um tanto vento, um tanto céu...

Hoje acordei um tanto Eu.